diciembre-enero 2023, AÑO 22, Nº 90

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/  Osvaldo Aguirre

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Diário de Viagem (inverno 2013)
Onde a Bósnia

(Bósnia, fevereiro)

“Depois de viajar nove milhas, parou em um desfiladeiro acima de Klis olhando para a terra selvagem e árida que se abria a sua frente e para o penhasco cinzento salpicado por uma vegetação escassa e sem brilho. Vindo do lado bósnio, sentiu o cheiro do silêncio de um mundo novo até aqui desconhecido. O jovem estremeceu, mais por causa do silêncio e da força da paisagem do que pela brisa fresca que vinha do desfiladeiro. Puxou a capa por sobre os ombros, agarrou-se mais ao cavalo e entrou naquele mundo novo de silêncio e incerteza. Podia-se sentir a Bósnia, um lugar taciturno, e também, no ar, um sofrimento gelado sem palavras ou razão evidente.” Assim descreve o narrador de The days of the consuls a chegada do jovem secretário e intérprete do cônsul francês, Amédée Chaumette Des Fossés, a esse mesmo país em que agora eu entrava, de ônibus, a partir de Dubrovnik, com minha filha Clara e uma amiga. O livro de Ivo Andric (1892-1975) dava o tom daquela paisagem de montanhas, vales, muita neve e chuva que nos acompanhou até Mostar e, depois, Sarajevo. A versão que tinha nas mãos havia sido traduzida em abril de 1986 por Celia Hawkesworth com a ajuda de Bogdan Rakic, em Sarajevo, onde Andric havia escrito o romance sobre a chegada dos cônsules da França e da Áustria, no início do século XIX, a Travnik, cidade da Bósnia-Herzegovina situada então nas fronteiras do império otomano. No prefácio, datado de julho de 1992, a tradutora lembra que o livro havia sido escrito em meio à miséria e à tragédia da Segunda Guerra e que sua própria tradução estava sendo preparada quando Sarajevo era assaltada novamente por uma violência sem sentido. Vale lembrar que a tradução estava sendo feita no apartamento de Bogdan Rakic, em Sarajevo, ao mesmo tempo em que acontecia o acidente no reator 4 de Chernóbil, na Ucrânia.  

             A tradução de Celia Hakesworth não era a primeira. Kenneth Johnstone fez a primeira versão em 1958 com o título de Bosnian Story; em 1963, John Hitrec retraduz o texto de Andric sob o nome de Bosnian Chronicle. O romance explora os conflitos entre o povo da cidade de Travnik, onde aliás nasceu o autor, e os dois cônsules, na época representantes de duas potências inimigas, a França revolucionária de Napoleão e a Áustria aristocrática, ainda amarrada a um mundo que começava a se desfazer. Andric foi diplomata durante muitos anos (seu último posto foi na Berlim nazista, de onde se retirou para se manter isolado, em prisão domiciliar, em Belgrado) e entre suas andanças na Europa esteve em Portugal. 

 

Inverno de 2014

Paris – Muita gente. Multidões. Confit du canard, formule, 14 euros. Leio Houellebecq, que pessimismo! Em Anti-matter, Michel Houellebecq and depressive realism, Ben Jeffrey destaca a importância do escritor francês em um cenário pobre de literatura”(...) and has sustained critical and popular attention during a decade and a half in which the number of writers to emerge from Europe with any sense of importance is next to zero”. Havia rejeitado sua prosa em 2000 quando o li pela primeira vez em New Haven, EUA.

 

Londres – Metrô, ou the tube, como dizem os londrinos, até Finnchley Road. Na estação, pergunto ao homem na loja de jornais e revistas por Maresfield Gardens: “Just behind the blocks”, apontando para os prédios em frente à estação. Na saída, encontro a seta com a informação: Casa de Freud. Havia estado aqui na primeira viagem à Europa, em 1985, antes de Clara nascer. Fui reconhecendo a rua central, Finnchley Road, a passagem em aclive para Maresfield Gardens, a rua com suas casas de tijolo, a casa onde morou Sigmund Freud nos últimos anos de vida (de junho de 1938 a 23 de setembro de 1939), e a casa do lado direito onde fiquei uma semana em novembro de 85.

 

Amsterdam – Perambulando por ruas e canais, essa cidade de beleza sóbria, contida, desfila diante de mim como uma paisagem só: os canais que se repetem com seus prédios tortos, todos do mesmo tamanho, as cores semelhantes e discretas, achatadas pelo inverno. Uma coisa chama a atenção à noite: as janelas iluminadas e sem cortinas se abrem à curiosidade alheia, se mostram sem pudor, organizadas, limpas e, geralmente, vazias. O que a transparência deixa visível é o vazio. O mesmo vazio que havia sentido nos anos 80 diante das mulheres expostas nas vitrines. Mas a verdade é que agora Amsterdam me agrada, não sei porque. Leio “The embarrassement of the riches”, de Simon Shama, para conhecer melhor a história, afinal eu já estava cativado pela pintura holandesa, a história dessa identidade construída contra o mar, na luta para ganhar território do mar. E no entanto a cidade se mexe, preferencialmente sobre duas rodas. Movimentam-se as mães com crianças e compras, estudantes, turistas.

 

 

(Actualización noviembre 2014 – febrero 2015/ BazarAmericano)




9 de julio 5769 - Mar del Plata - Buenos Aires
ISSN 2314-1646